“TRECOS, TROÇOS E COISAS– Estudos antropológicos sobre a cultura material”
Os estudos antropológicos da cultura material costumam enfatizar os objetos como representações daquilo que somos materializações e marcas de classe, etnia e grupo. Nesse livro, contudo, o antropólogo Daniel Miller afirma que nosso treco, troços e coisas nos fazem na mesma medida que são feitos por nós. Reunindo uma serie de ensaios elaborados a partir de pesquisas realizadas em diversas partes do mundo, o autor propõe a formação de uma “indisciplina” dedicada ao conhecimento das coisas e das funções que elas podem desempenhar na organização das relações humanas e sociais.
Miller faz ainda uma comparação com a fábula “A nova roupa do Imperador” que diz que a roupa era apenas um objeto, um treco inanimado, mas que o Imperador que dá a elas a Dignidade, Encanto e Requinte. Porém ele retruca essa abordagem com uma observação de um personagem de Ibsen, Peer Gynt, que diz que somos cebolas e que assim como as cebolas ao nos descascarmos não sobrara mais nada, portanto, as roupas não são superficiais, mas é o que nós pensamos em ser. Elas têm um valor, que é o valor que temos de nós mesmos, por isso nós as compramos, pelo fato de que elas são o que queremos ser, o que acreditamos que somos.
O autor demonstra alguns exemplos de que nem sempre são futilidades como em Trinidad, onde mulheres em um acampamento sem teto tinham vinte pares de sapatos e onde uma atividade de lazer era fazer desfiles de moda. A razão disso, depois de muita observação, é que para esse povo o que é verdadeiro, não é o que está em camadas mais profundas do ser e sim na sua superfície.
O autor buscando a vertente cultural para explanar suas ideias se aprofunda na utilização de Sári da indianas o demonstrando não apena como uma veste, mas quanto formas possíveis e objeto definidor da cultura. Ele não é apenas uma veste, mas é utilizado para cuidar do seu filho se tornando um objeto símbolo de afeto. Ele pode ser objeto