“Cartas de mamá”, de Julio Cortazar
História que se inicia com o casal, Laura e Luis, vivendo em Paris,
“Cartas de mamá”, de Júlio Cortazar, a princípio não soa como fantástico,
porém, logo de início se percebe a tensão entre presente e passado:
“Esa mañana había sido una de las tantas mañanas en que
llegaba carta de mamá. Con Laura hablaban poco del pasado,
casi nunca del caserón de Flores. No es que a Luis no le gustara
acordarse de Buenos Aires. Más bien se trataba de evadir
nombres (las personas, evadidas hacía ya tanto tiempo, los
verdaderos fantasmas que son los nombres, esa duración
Júlio Cortazar em Valise de Cronópio, no Capítulo “Do sentimento
de não estar de todo”, compartilha uma idéia sobre o recurso do fantástico em
“Tem-se dito que em minhas narrativas o fantástico se desgarra
do “real” ou insere-se, e que esse brusco e quase sempre
inesperado desajuste entre um satisfatório horizonte razoável e a
irrupção do insólito é o que lhes dá eficácia como matéria literária.
Mas então que importa que nesses contos se narre sem solução
de continuidade uma ação capaz de seduzir o leitor, se o que
subliminarmente o seduz não é a unidade do processo narrativo,
mas a disrupção em plena aparência unívoca? Uma técnica eficaz
pode submeter o leitor sem dar-lhe oportunidade de exercer seu
sentido crítico no decorrer da leitura, mas não é pela técnica que
essas narrativas se distinguem de outras tentativas; bem ou mal
escritas, são, em sua maioria, do mesmo estofo que meus
romances, aberturas sobre o estranhamento, instâncias de um
deslocamento a partir do qual o sólito deixa de ser tranqüilizador
porque nada é sólito desde que submetido a escrutínio secreto e
contínuo” (CORTÁZAR, 1974, p. 170-171).
Segundo Cortazar “o fantástico exige um desenvolvimento
temporal ordinário e sua interrupção altera instantaneamente o presente, mas a
porta que dá para o