É fácil de usar?
Por que a usabilidade se tornou um assunto central em tecnologia
Por Helio Gurovitz
Mais um ano. Mais uma declaração de imposto de renda enviada pela internet. Ficou tão fácil que já nem mais é notícia dizer que noventa, noventa e cinco, noventa e sete vírgula trinta e oito ou sei-lá-quantos porcento das pessoas fazem como eu: digitam sozinhas um punhado de números e deixam a cargo da rede a dolorosa tarefa de prestar contas ao Fisco. Até minha mãe, uma respeitável senhora de 68 anos, andava fazendo isso ultimamente. Mas neste ano ela teve um probleminha: errou o valor de um bem e só percebeu depois de enviar a declaração. Corrigiu e tentou mandar de novo a tal declaração retificadora. Mas aí o programa da Receita pediu o número do recibo da anterior. Ela tentou imprimir o recibo, mas não conseguiu: o programa informava que não podia imprimir porque a declaração a que o recibo se referia havia sido alterada. Não havia saída. Resultado: na véspera do prazo final, lá se vai minha mãe a pé até a agência dos Correios mais próxima entregar uma declaração feita à mão, à moda antiga. Poder-se-ia argumentar que os mais idosos têm mesmo mais dificuldade para lidar com as novas tecnologias, mas o problema que minha mãe enfrentou poderia ter sido encontrado por qualquer um. Nem minha irmã, que estava junto com ela, nem eu, que entendo um pouco dessas coisas, conseguimos resolvê-lo. O programa simplesmente não estava preparado para prever um comportamento humano mais que natural: querer mexer no arquivo que havia sido enviado para corrigi-lo. A dificuldade de prever os possíveis comportamentos humanos diante de um novo software ou site é estudada por uma disciplina chamada usabilidade. Os especialistas em usabilidade não se importam muito se o programa está correto, se é eficiente ou se foi escrito de uma forma que facilite a sua manutenção ou o reaproveitamento do código. Só querem saber de uma coisa: é