Ética e engenharia genética
Diferentemente de Doworking, que trabalha com a possibilidade da eugenia positiva, ou seja, aquela destinada à cura de doenças, Habermas ressalta a incongruência da atitude de gerar seres humanos ‘apenas se’ certas condições de saúde forem cumpridas. Esta atitude incita a um trato instrumental para com a vida humana da pré-pessoa do embrião incompatível com certas práticas liberais atuais, que, promovem o respeito as mais diversas formas de vida, inclusive da vida humana portadora de algumas doenças.
A eugenia liberal poderia inclusive, embora não seja este o ponto de Habermas, levar a algum tipo de eugenia negativa obrigatória, pois é orientada pela auto-otimização da espécie. Isto pode ser observado no uso cada vez mais frequentes de diagnósticos pré-implantatórios (DIP), que visam selecionar o embrião geneticamente menos apto a desenvolver doenças. Inicialmente, os países que permitiram o uso de tal procedimento, limitavam a abrangência do diagnóstico a doenças específicas. No entanto, hoje no Reino Unido já é possível selecionar o embrião menos apto a sofrer de câncer. Esta constante seleção de embriões cada vez mais saudáveis pode levar futuramente à escolha de habilidades específicas, levando à otimização da espécie.
É importante esclarecer que, de acordo com o pensamento de Habermas, o caso discutido neste texto, isto é, o que veio a ser chamado de eugenia liberal (liberal eugenics) não se configura da mesma maneira que o debate sobre o aborto. Existem muito mais minúcias a ser examinadas. Não se trata apenas de estabelecer um contraponto entre a vida do feto e os direitos da gestantes. É preciso avaliar as semelhanças e dessemelhanças entre práticas familiares e não familiares, como por exemplo, se o direito de procriação e reprodução configura-se da mesma maneira em ambos os casos ou há diferenças moralmente relevante. Se não diferenças qualitativas, se não há quantitativas (de grau),