Um conhecido consultor nos relata o caso de um profissional excelente que estava há muito tempo em uma organização. Ele tinha qualificação para ser promovido a diretor mas estava estacionado no posto de subgerente. Qual o motivo? Choque cultural, segundo o consultor. Tratava-se de uma empresa alemã cujo ambiente de trabalho era circunspecto, silencioso e formal. O temperamento do gerente era oposto. Alegre e expansivo, gostava de contar casos engraçados e de rir. Os diretores viam seu comportamento como imaturo e não confiável. Podemos até imaginar dois deles tendo o seguinte diálogo (já traduzido para o português): - O que vamos fazer com o Eduardo? - Sinceramente, não sei. - Não tenho coragem de demiti-lo, pois ele é competente. Mas também não confio nele para posições superiores, ele é meio moleque. - Ele é inteligente, bem preparado, mas está fora do padrão. - É uma pena ! O consultor apresentou à direção da empresa o diagnóstico de falta de afinidade cultural. Os diretores, segundo ele, concordaram com sua avaliação "com extrema correção e sentido ético" e deixaram-no à vontade para encontrar outra oportunidade para aquele profissional. O consultor assim fez. Encontrou e ofereceu ao subgerente um cargo de direção em outra companhia, proposta que ele prontamente aceitou. Ao mencionar "choque cultural", o consultor sugere que o problema teria sido causado pela discrepância entre os valores da organização ― circunspecção, seriedade (restrição ao riso) e formalidade ― e os do profissional ― alegria, informalidade e riso fácil. As empresas, porém, dizem professar valores como integridade, ética, excelência, trabalho em equipe, inovação, transparência, aprendizado contínuo, confiança, qualidade, responsabilidade, foco no cliente, diversidade etc., numa lista que não inclui valores como os citados pelo consultor. Por que será? Talvez porque circunspecção, seriedade e formalidade não sejam realmente valores organizacionais, mas