Éden americano
A paisagem torna-se, assim, espaço idealizado, muitas vezes não correspondendo a real geografia brasileira. O europeu projeta suas utopias no Novo Mundo à procura dos padrões, do espaço e do tempo paradisíaco.
Visão do paraíso aborda e analisam os mitos edénicos aos quais recorreram grande parte das narrativas acerca do descobrimento e colonização da América, escritas entre o final do século XV e o século XVIII. A ideia do paraíso remonta ao Gênese bíblico. Trata-se do Jardim do Éden representado por um espaço ideal, no qual o homem é pleno e a harmonia total e onde nossos pais primitivos, Adão e Eva, criados por Deus, vivem, pois, na mais completa felicidade, só interrompida com a desobediência por provarem o fruto da árvore do conhecimento, pelo que são castigados e passam a viver como seres humanos, com todas as suas necessidades e sofrimentos. Assim, o homem, fascinado ante a paisagem vista ou descrita do Novo Mundo, projeta nela justamente os elementos paradisíacos do seu imaginário: a eterna primavera, vegetação verde e exuberante, temperatura amena, ar puro, frutos belos e saborosos, terras férteis e plenas de riquezas, flores perfumadas e coloridas, árvores frondosas, pássaros melodiosos, águas cristalinas, ausência de doenças e sofrimentos, fartura de alimentos e harmonia entre os seus primeiros habitantes e os animais. Ante a realidade nova e diferente da América, os descobridores utilizam para descrevê-la e explicá-la, os mitos antigos como o do Jardim do Éden, da Idade do Ouro e do Eldorado. Como mostra Sérgio Buarque de Holanda na sua obra Visão do paraíso, a multiplicidade de concepções do paraíso que impregna e interpenetram as tradições greco-romanas e judaico-cristãs propiciam as mais diversas especulações que se propagam através dos