Ontogenia e filogenia
Assim como o futebol, a biologia é mesmo uma caixinha de surpresas
Marcelo Leite (cienciaemdia@uol.com.br), editor de Ciência da 'Folha de SP, mantém no caderno 'Mais!', a coluna 'Ciência em Dia', criada por José Reis, onde publicou este texto:
Arrisco afugentar leitores, com os palavrões do título, na confiança de que terão visto em algum momento do passado escolar uma ilustração como essa mais à direita.
Sim, é verdade que embriões de vertebrados têm muita coisa em comum, sobretudo nos primeiros estágios de desenvolvimento, como mostra a figura. E a coisa toda parece ter uma misteriosa base molecular, ou seja, isso está 'inscrito' no DNA dessas espécies.
A descoberta de David Haussler e seu grupo, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, foi notícia há nove dias, inclusive nesta 'Folha de SP'.
Eles encontraram 481 trechos de DNA - a maioria fora de genes - com pelo menos 200 letras químicas (bases nitrogenadas) coincidentes nos genomas de homens, ratos e camundongos, que chamaram de 'elementos ultraconservados' (pois a simples taxa normal de mutação tornaria extremamente improvável que isso acontecesse).
O que a reportagem de minha autoria omitiu foi a hipótese de que esses trechos fósseis e misteriosos de DNA de vertebrados estejam diretamente implicados no que se chama de regulação dos genomas e, mais especificamente, na regulação daqueles genes cruciais para o desenvolvimento inicial de cada indivíduo (ontogenia).
Sendo tão fundamentais, o organismo teria muito a perder caso ocorresse neles a lenta acumulação de mutações chamada evolução - daí a sua conservação ímpar, mesmo em meio ao surgimento de espécies ao longo de centenas de milhões de anos (filogenia).
Quem chamou minha atenção para a relação entre a descoberta de Haussler e a conhecida semelhança no desenvolvimento de vertebrados - resumida na célebre frase 'a ontogenia recapitula a filogenia' - foi o geneticista