O último hippie
Em seu conto “O último hippie”, o autor Oliver Sacks descreve a história de Greg F., um jovem que iniciou sua vida na década de 50 e decidiu experimentar o que a geração da utopia e “liberdade interior” tinha a oferecer. Greg passou parte de sua juventude fazendo uso de ácido e outras drogas, o que gerou uma grave complicação de saúde física e mental anos mais tarde.
O adoecimento de Greg foi durante algum tempo despercebido, após deixar o mundo das drogas ele mudou-se para um templo religioso e fez de sua devoção um caminho de vida. Neste novo lugar, sua comunicação com o mundo exterior foi suspensa e ele foi cada vez mais considerado “espiritual”.
O primeiro sintoma apareceu no segundo ano vivendo no templo, Greg percebeu que sua visão ficava ofuscada, porém, a queixa foi interpretada pelos monges como um progresso espiritual. Após anos sem se encontrar, os pais visitaram Greg no templo e depararam-se com o filho quase irreconhecível e completamente cego, ele foi retirado do templo e internado em um hospital.
Greg passou por uma neurocirurgia constatando um tumor benigno no cérebro que apresentou um agrave provocado pelo longo tempo do diagnóstico e não foi possível sua completa remoção. Além de cego, ficou incapacitado neurologicamente e mentalmente. O tumor só foi removido por completo em 1976, quando seu sistema de memória no lobo temporal foi destruído, impedindo novos registros. Além da incapacidade de registro de novos acontecimentos, houve um desgaste das memórias passadas, uma amnésia – ocorre quando o sistema nervoso passa por um forte descarregamento de tensão deixando o cérebro incapacitado de registrar durante determinado tempo os vestígios das excitações que lhe são presentes (LURIA, 1979) – provocando a lembrança de fatos ocorridos apenas em determinados períodos de sua vida. Greg não tinha nenhuma memória coerente ou cronológica dos acontecimentos posteriores a 1970, sua memória e seu desenvolvimento pareciam ter sido