O zero não é vazio - as fronteiras da sexualidade como potência de criação
CRIAÇÃO
Eliana Peter Braz1
Resumo:
Um trecho do filme O zero não é vazio, de Marcelo Masagão e Andréa Menezes
(2005), e o poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meirelles, servem de mote para a discussão sobre a racionalidade que fundamenta os discursos a respeito das sexualidades e as implicações que essa forma de pensar têm na Educação. Proponho, neste texto, que se pensem as sexualidades para além dos binarismos, baseando-me em autores que as abordam como construções sociais e históricas, como Foucault e
Judith Butler. A desconstrução do discurso heteronormativo permite o questionamento das formas tradicionais de constituir os saberes não só sobre a sexualidade, mas sobre a nossa cultura geral.
O número zero devia ter um pontinho no centro para dizer que não é vazio.
Orlanda Travestá
O um oposto ao zero. O um, totalidade - o zero, vazio. O código binário dos sistemas eletrônicos digitais recheia o pensamento moderno, o pensamento racional.
Isto ou aquilo, dizia Cecília Meireles: “Ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva!” Mas, Cecília... é nesse limiar entre a chuva e o sol que germina a beleza múltipla do arco-íris com suas infinitas gradações... Talvez
Orlanda tenha razão... o zero não é vazio... Esvaziar o zero é uma tentativa de nosso pensamento racional de delimitar onde termina ou começa algo. Um limite, uma fronteira, uma breve pausa, mas não vazio.
Onde está a fronteira absoluta entre eu e o outro? Será possível limitar as reverberações do eu e do outro nessa breve pausa entre nós?
Homi Bhabha chamaria essa breve pausa de “entre-lugar” – um espaço de encontro, de articulação de diferenças. Uma fronteira, nas palavras de Heidegger: “o ponto a partir do qual algo começa a se fazer presente” (HEIDEGGER, 1971, citado por
BHABHA, 1998, p. 19). Uma ponte, que possibilita a aproximação, o alcance a outras
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Mestranda do Programa de