O trabalho e seus sentidos
WORK AND ITS SENSE
Ricardo Antunes 1
A teoria social nas últimas décadas efetivou uma tentativa de desconstruir o trabalho, reduzir seus significados e sua centralidade.
Ao contrário destas teses que propugnam o descentramento da categoria trabalho, as tendências em curso configuram-se como elementos suficientes para evidenciar as formas contemporâneas da centralidade do trabalho.
Ainda que presenciando uma redução quantitativa (com repercussões qualitativas ) no mundo produtivo, o trabalho abstrato cumpre papel decisivo na criação de valores de troca.
A redução do tempo físico de trabalho no processo produtivo, bem como a redução do trabalho manual direto e a ampliação do trabalho mais intelectualizado, não negam a lei do valor, quando se considera a totalidade do trabalho, a capacidade de trabalho socialmente combinada, o trabalhador coletivo como expressão de múltiplas atividades combinadas.2
Quando se fala da crise da sociedade do trabalho, é absolutamente necessário qualificar de que dimensão se está tratando: se é uma crise da sociedade do trabalho abstrato ou se se trata da crise do trabalho também em sua dimensão concreta, enquanto elemento estruturante do intercâmbio social entre os homens e a natureza (como sugerem Offe, 1989; Gorz, 1990;
Habermas (1991 e 1992; Dominique Méda, 1997; Rifkin, 1995, entre tantos outros)3.
No primeiro caso, da crise da sociedade do trabalho abstrato, há uma diferenciação que nos parece decisiva e que em geral tem sido negligenciada. A questão essencial aqui é: a sociedade contemporânea é ou não predominantemente movida pela lógica do capital, pelo sistema produtor de mercadorias, pelo processo de valorização do capital? Se a resposta for afirmativa, a crise do trabalho abstrato somente poderá ser entendida como a redução do trabalho vivo e a ampliação do trabalho morto. 1
Ricardo Antunes é Professor Titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da