O Sonho do Morto
Anderson Luis da Silva1
Resumo
O presente artigo propõe a análise da condição de permanente conexão imposta pelo uso massivo de dispositivos computacionais conectados a internet, evidenciando possíveis impactos e decorrência desta existência digitalizada, como, distúrbios patológicos físicos e mentais, nos indivíduos que compõe o contexto delimitado por pós-humanidade.
Palavras-Chave
Ciberespaço, Cibercultura, Outismo, Tecnopatologia, Pós-Humano
2012
Uma barba inculta e branca pela idade caracteriza Caronte. Das suas pupilas jorra o fogo; e sobre os ombros um nó grosseiro prende e sustenta uma veste suja. Ele próprio impele com o remo o fúnebre barco no qual transporta os corpos. Já é velho, mas a sua velhice verde e vigorosa é a de um deus. A essas margens é que se precipita a multidão das sombras: as mães, os esposos, os heróis generosos, as virgens mortas antes do himeneu. e os jovens postos na fogueira perante os olhos dos pais. De pé, cada sombra quer ser a primeira em passar, e estende as mãos para a outra margem, objeto dos seus desejos. Mas o sombrio barqueiro nem a todas recebe no barco e repele para longe as que exclui. "As que são admitidas ao barco foram inumadas, pois não é permitido transportá-las para além dessas medonhas margens, e das tenebrosas torrentes, antes que um túmulo lhes tenha recebido os ossos. Privadas dessa derradeira honra, as sombras erram e esvoaçam durante cem anos, sobre tais margens. (Virgílio Apud MENARD, 1991, p. 140).
Perscrutando o ciberespaço, por vezes me dava conta de estar de fato a vagar por lá, como que destituído da fisicidade de minha existência, perambulava inerte pelos espaços imateriais da rede. Vez ou outra deparava-me com distintas almas também por hora destituídas de corpo, comumente atravessavam a minha própria existência sem deixar marcas, neste momento percebi, estava morto.
A alusão metafórica com a qual início este texto,