O Show de Truman
Nesta postagem final da trilogia sobre o ceticismo gnóstico de Jean Baudrillard alcançamos a secreta gnose do seu pensamento: a busca pela “pura aparência”. Se a realidade é uma ilusão e todos os discursos das ciências e das mídias são mobilizados para simular um efeito de realidade que crie uma aparência de sentido às instituições políticas, econômicas e sociais, então a nossa “última chance” é a “pura aparência”: combater a aparência que simula sentido com outra aparência, tão ilusória quanto a “realidade” que nos cerca. O filme “Show de Truman” talvez seja aquele que mais didaticamente apresenta esta estratégia fatal que explodiria os efeitos de realidade dos discursos dominantes.
Certa vez em um Simpósio Internacional de Comunicação na USP, lá pelo final da década de 1980, após uma palestra de Baudrillard, a comissão organizadora quis levá-lo para um almoço e posterior passeio pela cidade. Sabendo que Baudrillard já havia visitado São Paulo anteriormente, perguntaram-lhe o que gostaria de conhecer dessa vez. Perguntado, Baudrillard falou: “Quero ver bundas!”. Todos ficaram atônitos, sem saber bem o que o francês queria dizer, enquanto ele ria de todos. Reformulada a pergunta, Baudrillard foi ainda mais enfático: “Quero ver bundas, bundas do tamanho de um prédio!!!”
Depois dele se divertir da cara de espanto de todos, Baudrillard explicou que queria fotografar (a fotografia era uma das suas paixões) os outdoors que ocupavam laterais inteiras de prédios ao lado do chamado “minhocão” (o imenso elevado “Costa e Silva” no centro da cidade). Literalmente viam-se bundas do tamanho de um prédio em diversos outdoors de roupas íntimas femininas. As fotos dessas paisagens urbanas bizarras de São Paulo eram famosas na Europa e Baudrillard queria realizar suas próprias fotos delas.
Esse exemplo