O Sequestro Da Fala Comunit Ria
O SEQÜESTRO DA FALA COMUNITÁRIA
Raquel Paiva e Muniz Sodré *
Resumo ––
O texto propõe-se a traçar um mapeamento em torno da existência e
persistência das emissoras de rádio comunitária na atualidade, abordando o porquê da permanência das medidas e atos persecutórios para com os produtores desses veículos,
geralmente tratados como
criminosos. O entendimento da comunicação comunitária a partir do viés do conceito e comunidade gerativa permite a compreensão da importância da sua existência-resistência na sociedade midiática.
É bem possível que, no instante em que alguém começar a ler este texto, esteja sendo preso, com o devido seqüestro de seus equipamentos de trabalho, um jornalista comunitário. No Brasil, toda semana –– e isto é decididamente estatístico –– a Polícia
Federal, certamente sob pressão de forças nem um pouco ocultas, invade uma rádio comunitária, apesar das públicas recomendações em contrário feitas pelo Ministro das
Comunicações, Miro Teixeira, e pelo Grupo de Trabalho instituído para avaliar a legitimidade dessas atividades.
Um recorte demonstrativo: apenas no dia 13 de outubro de 2003, foram
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Raquel Paiva é professora-adjunta da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde exerce atualmente as funções de coordenadora da Pós-Graduação em Comunicação e Cultura, além da docência em Comunicação Comunitária e Projetos Experimentais de Jornalismo. Livros publicados: O
Espírito Comum – comunidade, mídia e globalismo (1ª. Ed. Vozes, 1997; 2ª. Ed. Mauad, 2003); Histeria na
Mídia (Mauad, 2000); Ética, Cidadania e Imprensa –– org. (Mauad, 2002); O Império do Grotesco, c/ Muniz
Sodré (Mauad, 2002); Muniz Sodré é professor-titular da ECO/UFRJ, onde leciona no Programa de PósGraduação em Comunicação e Cultura e coordena a disciplina Projetos Experimentais de Publicidade. Livros mais recentes: Antropológica do Espelho –– uma teoria da comunicação linear e em rede (Vozes, 2002);
2 fechadas três rádios na Zona Oeste do Rio de