O retrato por Andy Warhol
Off register: o retrato por Andy Warhol
Fernanda Lopes Torres
Olhando as Marilyns e os Death Disasters, de Warhol, alertamos para sua “apresentação” do individualismo contemporâneo. Sem tematizar celebridade/massa anônima, ele repete imagens que, submetidas a nossa tendência de leitura linear, viram unidades temporais na tela. Daí uma sensação física de tempo – encontro com o indivíduo que é cada um de nós.
Andy Warhol, individualismo contemporâneo, repetição, estrutura temporal.
“Business Art é o passo que vem depois da Arte. Eu comecei como artista comercial e quero terminar como
Business Artist.”1 A conhecida ambição de Andy Warhol coincide com perspicaz identificação da iminente saturação pública da arte como condição sine qua non para a sobrevivência do artista. Imediatamente acomodado à nova presença social da arte, ele reconhece sua impotência diante do que definitivamente não pode ser mudado. Exclamações monocórdias, não-edição das imagens, repetição do “exatamente o mesmo”: 2 táticas irônicas por meio das quais ele resiste à realidade dada com a realidade dada. 3 Espécie de resignação lúcida a partir da estrita adesão à lógica produção-consumo através da serigrafia, em que o artista confirma e repete, reitera e anula o cotidiano ordinário, porque “quanto mais você olha para a mesma coisa, mais o significado vai embora, e melhor e mais vazio você se sente”.
Tuna Fish Disaster,1963
Serigrafia e acrílico sobre tela,
316 x 211cm, coleção Saatchi.
Fonte: Catálogo Andy Warhol: rétrospective, Paris, Éditions du Centre
Pompidou, 1990
Uma suposta desistência de existir, rápida e equivocadamente localizada na atitude blasé do artista, coincide com o contemporâneo cansaço de existir. “Não gosto de tocar as coisas”: com sua linguagem característica, tão banal quanto precisa, Warhol detecta o fim de um estado de corporeidade reflexiva nas imagens incorpóreas, cada vez mais abundantes. O que num primeiro momento parece opinião