O respeito para com o outro
A maioria das pessoas se diz respeitosa e não o é na prática mais elementar da vida cotidiana, quando o seu próprio linguajar é permanentemente autoritário. Algumas outras criaturas aprenderam a se comportar de modo mais respeitoso; estas parecem que conseguem dialogar com pessoas que pensam de modo diferente, colocar ponderadamente seus argumentos e ouvir os do seu interlocutor. Mas no íntimo se tornam irritadiços (e isto às vezes transparece) e seus diálogos interiores são sempre de desprezo pelo modo de pensar do outro, visto como burro ou desonesto. Não é nada fácil admitir que alguém pense diferente de nós sem isto nos irritar profundamente e todos nós sabemos que isto funciona assim; podemos deixar vazar nossa prepotência ou agirmos de modo educado e político; mas é extremamente difícil ser verdadeiramente respeitoso.
E não deixa de ser surpreendente que uma coisa assim simples seja tão difícil de ser conseguida como uma vivência interior sincera e consistente; é por isso que não acredito nas fórmulas fáceis e rápidas para quem pretende ser livre. É natural que a questão do respeito seja comprometida com profundos processos emocionais — processos de grande importância para o equilíbrio da pessoa — pois senão seria mais fácil de se superar este obstáculo. Uma das situações onde estes aspectos podem muito bem ser observados é no seio da vida familiar e principalmente na relação amorosa homem-mulher. Quando o marido se apercebe de que a mulher não está de acordo com algum ponto de vista seu (sim, porque muitas vezes ele nem dá chance dela se manifestar) isto provoca nele uma irritação descomunal, na maioria das vezes absolutamente desproporcional à magnitude dos fatos em questão. Ele grita, envolve outros dados da vida íntima na briga, faz discursos de persuasão, diz mesmo que a mulher é burra e não entende nada (e como os homens dizem isto com facilidade!), se sente profundamente ofendidos e podem ficar vários dia de “máu”. A