O QUERERES
“Essa é a parte fácil da letra. Se fosse só isso!“
Eu sei que é isso que vocês estão pensando. É que de Barroco o texto de Caetano tem muito mais do que a temática da incompatibilidade amorosa. O barroquismo de Caetano é caso mais grave, bem mais grave. Ecoando as características do cultismo, não só Caetano explora as antíteses como promove o uso de metáforas inovadoras, imagens inesperadas. Onde queres o lobo, o cowboy sou o irmão, sou chinês. Mais ainda: o uso de vocabulário difícil, também típico do cultismo, está lá, na letra de Caetano. Só pesquisando no dicionário para saber que o obus que se opõe ao coqueiro é uma arma militar, uma antítese que contradiz o primeiro verso do texto. Aliás, muitos versos do texto contradizem os anteriores (“Onde queres prazer, sou o que dói / E onde queres tortura, mansidão“), o que mostra que essa relação é irremediavelmente conflituosa. O eu lírico tem a capacidade de satisfazer o desejo da amada, mas nunca sua disposição para ser de determinada maneira está em harmonia com a vontade dela de que ele se comporte daquela maneira.
Isso tudo é muito Barroco e muito atual também. Mas o que me chama mais a atenção em termos de ecos do Barroco na letra de Caetano está justamente fora da estrutura paralelística, nas estrofes que fugiram desta constância. A complexidade da linguagem delas, a riqueza de recursos estilísticos usados em sua formação é tão instigante que merecem uma análise detalhada.
espero que ajude e boa sorte
fica