O que ser travesti no Brasil
Daniela Andrade
No Brasil, o dia 29 de janeiro é dedicado à luta pelos direitos e visibilidade de travestis e transexuais. Essa data histórica passou a ser considerada quando em 2004 o Ministério da
Saúde lançou a campanha “Travesti e Respeito”, com a participação da ANTRA – Articulação
Nacional de Travestis e Transexuais que, dentro do Congresso Nacional, inaugurou um novo ciclo na vida dessa minoria duramente rechaçada em todo o Brasil. Aquele momento demonstrou que havia algum diálogo com o governo, ainda que discreto.
Para falar sobre travestilidade no Brasil, é preciso antes de mais nada percorrermos conceitos básicos que serão aqui enunciados sem todo o rebuscado da academia. Se faço essa escolha, é por que pretendo atingir o cidadão que não possui estudos de gênero sedimentados, e peço desde já as minhas desculpas aos demais.
Dito isso, inauguro a conceituação com o significado da palavra gênero. Gênero se refere à identidade adotada por uma pessoa de acordo com seus genitais e/ou psiquismo e/ou papel exercido socialmente. Na sociedade binarista de gênero em que vivemos, estamos falando de dois gêneros: masculino e feminino.
Fazendo um breve parênteses para lembrar que há pessoas que fogem ao binário.
A definição de que gênero deve partir sempre do pressuposto biológico (homem -> pênis e mulher -> vagina) foi a única e isolada concepção que se tinha do assunto até que mais recentemente, sobretudo na última década, estudiosos da sexualidade humana descobriram que a biologia sozinha não poderia mais explicar a totalidade das complexas estruturas sociais e sexuais humanas. Estamos falando de um animal que, uma vez dotado de aparelho mental superior, não vive apenas e tão somente atuante e atuando em função do determinismo biológico. É por conta desse aparelho mental, tão densamente estruturado, que conseguimos criar as mais complexas sociedades em comparação com todos os outros. E também estamos o tempo todo contribuindo e