O PROBLEMA DA CASA QUINHENTISTA JUDAICA NA RAIA DE PORTUGAL

O PROBLEMA DA CASA JUDAICA NA RAIA

1. Procura-se explicar a casa doméstica em Portugal nos finais do séc. XV aos de XVII, conhecida tradicionalmente por casa de judeu nas zonas de fronteira com a vizinha Espanha, sobretudo nas Beiras e Trás-os-Montes, à luz das influências judaicas religiosas e culturais da Sefarad. A casa de judeu surgiu e desenvolveu-se em contexto de resistência identitária pela sobrevivência e afirmação face ao cristianismo romano e a instituições brutais como a Inquisição. Trata-se de um património histórico e arquitetónico imensamente rico que importa inventariar e estudar para enriquecimento da História da Sefarad e do Habitat em Portugal, tal como de o submeter a políticas criteriosas de reabilitação e restauro, por vezes de renovação em alguns dos seus aspetos inevitáveis, sem descaracterização da sua essência cultural arquitetónica na adaptação imprescindível às condições de vida atuais. Portugal tem o dever de salvaguardar esta Memória, de a divulgar ao mundo, e promover este legado sefardita que é parte integrante do Património da Humanidade mesmo que não classificado.
2. O problema das mezuzhot, menorahts ou hanukiaths gravadas nas ombreiras das casas de toda a Beira Interior de Portugal e Norte do Alentejo, coloca algumas interrogações:
3. Por certo, a acção persecutória contra os judeus não tolerou a permanência de marcas e sinais indiciadores de práticas de judaísmo (mezuzhot, menoraths, hanukiahs).
4. Tais marcas, aquelas poucas que ainda se conhecem na Beira Interior, foram geralmente descontextualizadas, truncadas ou dissimuladas de modo a induzir outras leituras e evitar motivos de perseguição, ou simplesmente destruídas.
5. O engenho e arte da dissimulação foram levados ao extremo em muitos dos aspectos da cultura da Beira Interior. Um sulco inicial na face interior da ombreira da porta, a cerca de 2/3 da sua altura, ligeiramente em diagonal, associado à colocação da mezuzhat, com outro sulco posterior na vertical