O poder global Resumo
DOSSIÊ
A AMÉRICA LATINA NOS MODELOS GEOPOLÍTICOS
MODERNOS: da marginalização à preocupação com sua autonomia Heriberto Cairo*
INTRODUÇÃO
A existência de uma ordem geopolítica internacional tem implicado certa continuidade nas estruturas e discursos geopolíticos, durante determinados períodos, separados por transições geopolíticas. A literatura geopolítica recente relativa à questão da continuidade nos oferece duas alternativas: a das ordens geopolíticas mundiais de
Peter J. Taylor e Colin Flint (2000); e as ordens geopolíticas conectadas a eras geopolíticas específicas, de John Agnew e Stuart Corbridge (1995).
Mesmo reconhecendo que os códigos geopolíticos de cada país guardam certa independência uns dos outros, Taylor e Flint, consideram que os atores mais relevantes no contexto internacional conseguem impor a todos uma única pauta geral: as ordens geopolíticas mundiais. A existência de uma ordem geopolítica mundial, segundo esses autores, portanto, só se estrutura com a pre* Professor Titular de Ciência Política e de Administração na Faculdade de Ciência Política e Sociologia da
Universidad Complutense de Madrid.
Campus de Somosaguas, 28223. Madrid - España. hcairoca@cps.ucm.es sença de uma potência dominante. Agnew e
Corbridge (1995), no entanto, interpretam as ordens geopolíticas de maneira distinta. Para eles, essas ordens são constituídas pelo conjunto de regras, instituições, atividades e estratégias que se convertem em rotinas em cada período histórico, assumindo características geográficas determinadas. Essas ordens geopolíticas são sustentadas por relações de poder coercitivas ou consensuais, mas não supõem necessariamente a existência de uma potência dominante, já que, em boa medida, as práticas materiais e representações hegemônicas estabelecem sentidos comuns. Nesse sentido, a perspectiva de Agnew e Corbridge tem inspiração gramsciana. As ordens constituem um modo de representação hegemônico,