o pesadelo de darwin
A minha primeira reacção foi de deixar passar o tempo, tentar digerir o que vi e só depois analisar e escrever. Cinco dias depois cheguei à conclusão que não vou conseguir digerir nada. Este é, provavelmente, um dos sinais mais seguros de que o filme é muitíssimo bom e que toda a gente o devia ver, pelo menos uma vez. O problema é que qualquer reflexão que eu possa fazer é, à partida, tolhida pelo desconforto, o desalento e a revolta. Por outro lado, um filme tão brutalmente objectivo e esclarecedor não deixa grande margem para interpretação.Vou apenas enunciar, o mais telegraficamente possível, três aspectos que me parecem dignos de nota: o primeiro toca questões formais; o segundo toca questões de conteúdo; o terceiro não sei dizer que questões toca.
Primeiro: O filme é bem conseguido por ser um documentário sem comentários. A esmagadora maioria dos filmes ou séries ditos documentais que vemos hoje estão carregados de comentários, relatos e explicações que, as mais das vezes, servem um de três objectivos: transformar o documentário em algo altamente empolgante e cheio de suspense; encaminhar a narração dos factos relatados segundo uma interpretação pré-concebida; fazer do documentarista o herói explorador do desconhecido ou reparador de injustiças. Este documentário é extremamente poupado nas informações que oferece em paralelo