O peixe dourado
Peter Brook
Tradução: Angela Hampshire Esclareçamos, antes de mais nada, qual é o nosso ponto de partida. Teatro é uma palavra tão vaga que ou carece de um significado ou cria confusão, porque uma pessoa fala de um aspecto e outra de outro completamente diferente. É como falar da vida. A palavra é importante demais para ser explicada. O teatro não tem nada a ver com edifícios, textos, atores, estilos ou formas. A essência do teatro se encontra num mistério chamado “o momento presente”.
“O momento presente” é assombroso. Sua transparência é tão enganosa quanto um fragmento arrancado de um holograma. Quando se desintegra este átomo do tempo, todo o universo estará contido em sua infinita pequeneza. Aqui, neste momento, superficialmente, não acontece nada de especial. Eu falo, vocês escutam. Mas seria esta imagem superficial um reflexo autêntico de nossa realidade presente? É claro que não.
Nenhum de nós se desvencilhou, subitamente, de toda sua vida real; mesmo que adormecidas por um momento, nossas preocupações, relações, comédias menores e tragédias profundas continuam aqui, como atores aguardando nos bastidores. Não somente nos acompanham os protagonistas de nossos dramas pessoais, mas também, como o coro de uma ópera, personagens secundários, dispostos a entrar e estabelecer um vínculo entre nossa vida privada e o mundo exterior. E em nosso interior, como um gigantesco instrumento musical disposto a ser tocado, estão as cordas, cujos tons e harmonias são nossa capacidade para reagir às vibrações do mundo espiritual invisível, que frequentemente ignoramos, mas com o qual entramos em contato cada vez que que inspiramos uma golfada de ar. Explosão Se nos fosse possível liberar nossas fantasias e movimentos ocultos, súbita e abertamente nesta sala, como se fora um explosão nuclear, o caótico torbelhinho de impressões seria intenso demais para que um de nós pudesse absorvê-lo.