o paraiso destruido
CAPÍTULO 1
D
A
I
LHA
E
SPANHOLA
Entravam nas vilas, burgos e aldeias não poupando nem crianças e homens velhos, nem mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e faziam em pedaços.
N
a ilha Espanhola que foi a primeira, como se disse,a que chegaram os espanhóis, começaram as grandesmatanças e perdas de gente, tendo os espanhóis começadoa tomar as mulheres e filhos dos índios para deles servir-see usar mal e a comer seus víveres adquiridos por seussuores e trabalhos, não se contentando com o que osíndios de bom grado lhes davam, cada qual segundo suafaculdade, a qual é sempre pequena porque estão acostu-mados a não ter de provisão mais do que necessitam e queobtêm com pouco trabalho. E o que pode bastar duranteum mês para três lares de dez pessoas, um espanhol ocome ou destrói num só dia. Depois de muitos outrosabusos, violências e tormentos a que os submetiam, osíndios começaram a perceber que esses homens não podiam ter descido do céu. Alguns escondiam suas carnes,outros suas mulheres e seus filhos e outros fugiam para asmontanhas a fim de se afastar dessa Nação. Os espanhóislhes davam bofetadas, socos e bastonadas e se ingeriam 33 em sua vida até deitar a mão sobre os senhores das cidades.E tudo chegou a tão grande temeridade e dissolução queum capitão espanhol teve a ousadia de violar pela força amulher do maior rei e senhor de toda esta ilha. Cousaessa que desde esse tempo deu motivo a que os índios procurassem meios para lançar os espanhóis fora de suasterras e se pusessem em armas: mas que armas? São tãofracos e de tão poucos expedientes que suas guerras nãosão mais que brinquedos de crianças que jogassem comcanas ou instrumentos frágeis. Os espanhóis, com seuscavalos, suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldei-as, não poupando nem as crianças e os homens velhos,nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam oventre e as faziam em pedaços como se