O papel do vazio na constituição do não-vazio: O quarteirão aberto
O Quarteirão Aberto
Marina Laidley Eusébio
“(...) o caso de certo famoso queijo com buracos no qual, ainda que os buracos não alimentem, eles são indispensáveis para a total definição das suas características. (...) o espaço que se deixa é tão importante como o espaço que se preenche.” 1
As cidades, enquanto reflexo das relações sociais e da própria organização da sociedade bem como das diferentes mentalidades, são formadas por diferentes elementos e categorias de espaços que podem ir desde o espaço público (ruas e praças) ao espaço estritamente privado (edifícios privados, habitações, etc), variando consoante o seu contexto e os seus habitantes.
O sistema do quarteirão surge como um elemento urbano capaz de agrupar, misturar mas em simultâneo dividir todas estas esferas pelo que a sua evolução tem vindo, consequentemente, a fazer-se sentir na vivência das mesmas. Muitas vezes possuidor de ambiguidades na separação dos diferentes tipos de espaço, é um elemento que requer a nossa atenção.
Na História surgem-nos diferentes modos de organizar e constituir o quarteirão interna ou externamente, mas o ponto mais forte deste elemento actualmente localiza-se na sua capacidade de articular os espaços cheios e vazios, servindo de charneira entre os domínios abertos e fechados e consequentemente as esferas pública, semi-pública e privada.
Nesta abordagem procura-se então compreender e sistematizar de que formas o quarteirão se pode abrir à cidade enquanto mediador desta relação vazio – cheio, entre as esferas pública e privada através da criação de espaços semi-públicos e de transição integrados numa rede de mobilidade complementar à existente, redefinindo assim a nossa percepção da cidade, bem como o modo como a experienciamos e vivemos. De que forma a continuidade / corte entre os espaços público e privado bem como as características do primeiro constituem a cidade, tornando os espaços vazios
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