O olhar sociologico guerreiro ramos
Para falar de Guerreiro Ramos, costumo usar as expressões: inteligência brilhante, capaz de insights memoráveis. Ele produziu fora ou em oposição aos cânones acadêmicos de sua época, o que nos ajuda a entender seu ostracismo na sociologia brasileira. O que é interessante perguntar: como podemos interpretar o atual interesse por Guerreiro Ramos? Ou seja, por que seus insights se tornaram atuais? Este outsider da academia sociológica que se formava no Brasil a partir da USP tem recebido atenção de algumas dissertações de mestrado e teses de doutorado como a de José Saraiva Cruz (2002, UERJ), a de Edison Bariani Junior (2003, Unicamp) e também a tese de doutorado de Ariston Azevêdo (2006, UFSC). José Saraiva Cruz (2002) observa que é com Guerreiro que o “povo” aparece como categoria sociológica. Quer, deseja, aposta em mudanças, em transformações na sociedade brasileira. Partilha da expectativa de que o desenvolvimento (industrialização e urbanização) mudará a sociedade e defende a atuação do Estado como agente do desenvolvimento e da democratização. Edison Bariani Junior (2003) acompanha com sintonia fina as divergências entre Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes. Ariston Azevêdo vai se deter na formação filosófica de Guerreiro sustentando a coerência das crenças autor e a defesa em suas obras da necessidade de um novo humanismo. Guerreiro foi homem de seu tempo, comprometido com as lutas da época. Sua trajetória oscilou entre o comprometimento e o ceticismo. A consciência nacional e o messianismo estiveram presentes na vivência e nas obras de Guerreiro ao longo de toda sua trajetória. Ele foi porta-voz de propostas de salvação nacional. A sociedade brasileira cobrou deste “mulato baiano” soluções para inúmeros problemas nacionais. Ele comprou a cobrança e procurou respondê-la lançando mão de tudo que acumulou em termos de conhecimento, erudição, vivência.
Clio-Psyché – Programa de Estudos e Pesquisas em