O Mito da Caverna

O MITO DA CAVERNA
Marilena Chauí
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, gerações após gerações, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e pescoços estão algemados, de tal modo, que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no seu interior. A luz que ali entra provém de uma mureta erguida do lado de fora da caverna, como se fosse parte da fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais entre outros objetos. Entre os prisioneiros e a mureta há um caminho ascendente, ao longo do qual, por causa da luz vinda de fora, imagens são projetadas para o interior da caverna. Os homens que transportam suas estatuetas caminham por trás da mureta e somente os objetos que eles carregam, no alto de suas cabeças são projetados na parede no fundo da caverna. Os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna somente as sombras das estatuetas transportadas pelos homens que passam por trás da mureta. Como os prisioneiros jamais viram outras coisas em suas vidas imaginam que as imagens das estatuetas e dos outros objetos projetados na parede são reais, não imaginam que são sombras provocadas pela luz exterior. Os prisioneiros pensavam que toda luminosidade possível era a que reinava no interior da caverna. Portanto, para eles as sombras vistas eram as próprias coisas, ou seja, não podiam saber que eram sombras, nem podiam imaginar haver outros seres humanos do lado de fora da caverna. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, um dos homens da caverna conseguiu se libertar das correntes que o aprisionavam e começou a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando-se com o caminho ascendente e a forte luminosidade fechou