O MERCADO DE TRABALHO MINEIRO NO SÉCULO XIX
Sérgio de Oliveira Birchal
Introdução
O debate acerca do mercado de trabalho no Brasil, e mais especificamente na região sudeste do País, no século XIX, é fortemente influenciado pela oposição entre trabalho escravo e trabalho imigrante. A maior atenção dispensada pela historiografia econômica brasileira a essas duas fontes de trabalho reside no seu amplo emprego pelos setores mais dinâmicos da economia durante todo o século XIX.
A mão-de-obra escrava, por exemplo, constituiu-se na principal fonte de trabalho para as principais atividades econômicas do País, tanto no período colonial (1550-1822) - as usinas de açúcar do Nordeste durante os séculos XVI e XVII e a mineração de ouro e de diamante no século XVIII (Mello e Slenes, 1980:91) -, quanto no período imperial (1822-
1889) - a produção cafeeira no Vale do Paraíba e no Oeste Paulista (Kowarick, 1987:35-
41). Além disso, à medida em que a abolição da escravatura foi se tornando inevitável, o braço imigrante passou a substituir a mão-de-obra escrava como principal fonte de trabalho para a atividade cafeeira, de longe a atividade econômica mais importante e dinâmica no
Brasil até a década de 1930.
Assim, de acordo com a historiografia econômica brasileira, a mão-de-obra brasileira livre se restringia às atividades de subsistência, aos trabalhos ocasionais ou à mendicância pelos campos e cidades (Kowarick, 1987:28-31). Nas áreas de cultivo do café, até o início do grande movimento de imigrantes - que coincidiu com a abolição da escravatura -, os brasileiros livres e pobres participavam somente de forma esporádica no processo produtivo (Lamounier, 1993:185).
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Mesmo a emergente indústria brasileira dificilmente constituiu-se numa alternativa para a massa de trabalhadores brasileiros livres no Rio de Janeiro ou em São Paulo
(Kowarick, 1987:65-8). Aonde houve um grande influxo de imigrantes eles tenderam a preencher os lugares nas atividades