O Mal na filosofia de Santo Agostinho.
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Em De libero arbítrio, livros I e II, a vontade e a decisão livre da vontade são analisadas sob o problema de fundo formulado na pergunta pela origem do mal – tema, a propósito, ao qual Agostinho se dedica incessantemente ao menos desde o escrito De ordine (386) até as Confessiones (396-398). Daí se entende que a tese do Livro I reside em que a vontade livre é a causa do mal. A definição e a prova da liberdade da vontade são elementos de uma teodiceia. A teodiceia obtém uma nova dimensão no Livro II, onde se pergunta se Deus não seria então responsável pelo mal, uma vez que ele criou a vontade. A isso Agostinho responde que a vontade livre, como tudo o que Deus criou, é um “bonum” ou uma perfeição. Também aqui, em algo que poderia ser um modelo de explicação última, alude-se àquilo que pode ser a razão metafísica derradeira de a vontade criada – enquanto um bem – fazer ou poder fazer o mal. Ela, afinal, provém do nada e não pode perder a condição substancial finita em que existe. Por fim, ratifica-se no Livro III a dimensão criatural última do movimento que leva às volições más e explana-se, ademais, como passos últimos da teodiceia, a compatibilidade entre vontade livre (não-necessidade dos atos da vontade) e presciência de Deus e a adequação da punição divina – certo embotamento da razão e da vontade – diante do mal cometido.
A “descoberta” da vontade, por Agostinho, no Livro I do Diálogo De libero arbitrio, está inserida dentro de uma controvérsia contra argumentos maniqueístas. Uma vez que Agostinho rejeita o dualismo maniqueísta – segundo o qual há duas fontes metafísicas de realidade, uma do bem e outra do mal –, ele tem de considerar o argumento de que, segundo essa premissa, e sob a acepção prima facie da realidade fática do mal, Deus – o princípio unificador da realidade – deve ser tomado como a sua causa primeira. Por isso mesmo, a discussão sobre a origem do mal é apresentada na forma de uma teodiceia: quer-se justificar Deus do mal agir humano.