O julgamento de sócrates
Na filosofia grega ocorreu uma revolução na segunda metade do século quinto, tão identificada com um homem - Sócrates (469-399 a.C.)- que os seus predecessores são coletivamente conhecidos como “pré-socráticos”. Seria inexato crer que os filósofos anteriores tinham inteiramente se debruçado sobre o estudo da natureza e do cosmos, ignorando o homem, assim como também seria errado menosprezar a contribuição dos contemporâneos de Sócrates - os sofistas.
Contudo, foi Sócrates, sem rival, o catalisador da mudança que colocou o homem no centro da investigação filosófica. “Conhece-te a ti mesmo”, dissera o oráculo de Delfos, e Sócrates apropriou-se desta máxima gnómica, elaborando-a numa série de ideias seminais: que o homem é capaz de se conhecer a si mesmo através de um pensamento racional rigoroso, mediante o método dialético de análise, derivado da maiêutica, que contrabalança entre si hipóteses ou explicações alternativas; que o verdadeiro conhecimento, em sentido estrito, não pode ser ensinado, mas deve ser apreendido por cada um e dentro de si - “Nunca fui professor de quem quer que fosse” - fá-lo dizer Platão insistentemente no seu julgamento (Apologia, 33a); que o auto-conhecimento do homem, da sua natureza, era o verdadeiro objetivo do saber e, por conseguinte, da vida - “uma vida que se não examine não é digna de ser vivida” (Apologia, 38a); que os homens somente praticam o mal por ignorância. A equação final corresponde a: Conhecimento (sabedoria) = virtude = felicidade.
Todas as tentativas para levar a cabo estas máximas fracassaram porque, no espaço de uma geração, Sócrates tornou-se um mito. Mas o Sócrates que importa, em última análise, não é o homem que foi mestre de Platão, mas o Sócrates protagonista de muitos dos diálogos daquele. Seja qual for a realidade em que acreditou, e há razões para pensar que teve muito mais êxito em destruir as crenças e argumentos dos outros do que em construir um sistema próprio com seu método