O Jornal La Lumière
Étienne Samain
Professor do Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de
Artes e Coordenador Científico do Centro de Memória (CMU) – Unicamp
RESUMO: Na efervescente metade do século XIX, marcada pela febre da ordem e do progresso, da racionalidade e das luzes, os antropólogos-naturalistas franceses descobrem, ao lado de muitos outros cientistas, as possibilidades heurísticas que a fotografia ofereceria à “visão” que eles tinham da “antropologia”, a saber essa tentativa de mapeamento da “espécie humana”, das raças e, dentre elas, dos tipos humanos, numa perspectiva claramente evolucionista.
O jornal La Lumière (1851-1867), primeira publicação francesa dedicada à
“Fotografia, às Artes e às Ciências”, foi parcialmente reimpresso em 1995.
Mergulhando nas colunas desse semanário, o leitor, além de adquirir uma idéia das origens da antropologia francesa, descobre as profissões de fé que se erguem em torno do novo suporte técnico e da nova “retina do cientista”. Descobre, também, como essa prótese instaura uma nova ordem do olhar e levanta, em termos de uma epistemologia do conhecimento, um interessante questionamento em torno de dois outros meios de representações figurativas nos círculos antropológicos da época: os desenhos e as moldagens.
PALAVRAS-CHAVE: Antropologia visual francesa no século XIX, jornal La
Lumière (França), meios de representações figurativos, Vênus hotentota.
La Lumière foi a primeira publicação francesa dedicada à fotografia. A primeira a alimentar um debate que, desde a divulgação da sua invenção
(1839), a fotografia não cessou de levantar – situada que estava, na encruzilhada de “três pólos de interesses contraditórios”: as Belas Artes,
ÉTIENNE SAMAIN. QUANDO A FOTOGRAFIA (JÁ) FAZIA OS ANTROPÓLOGOS SONHAREM
as Ciências e a Indústria. Durante exatos 17 anos, de 1851 a 1867, La
Lumière dará conta deste debate,