interpretação de poema de Fernando Pessoa ortónimo - "Sei que nunca terei o que procuro"
Sei que nunca terei o que procuro
E que nem sei buscar o que desejo,
Mas busco, insciente, no silêncio escuro
E pasmo do que sei que não almejo.
O tema principal é a incapacidade de atingir os nossos sonhos e desejos na vida real. O sujeito poético idealiza a realidade, mas não possui a capacidade para concretizar essa idealização. Por outro lado, o sujeito poético sonha demasiado alto e, por isso, o que sonha é impossível de alcançar do seu ponto de vista.
Esta impossibilidade, marca de maneira decisiva a sua atitude e forma de encarar a vida. Racionalmente aceita o seu destino, no entanto, inconscientemente continua a procurar o que deseja. E, nessa procura, apercebe-se do que não quer na sua vida, ficando surpreendido com o que descobre.
Neste poema, observa-se uma análise racional e fria do comportamento do eu lírico, aborda-se a angústia e tristeza de viver pelo uso da negação e do adjetivo de caracter negativo “escuro”, mas de uma forma intelectual, ou seja, sem ser assumido qualquer sentimento.
O poema é de caracter pessoal, ou seja, as afirmações são de acordo com o sujeito poético, e não universais.
Em relação à estrutura formal, o poema é constituído apenas por uma quadra e a rima é cruzada.
O recurso estilístico mais evidente é a antítese entre o que o eu lírico deseja e o que não deseja, entre a realidade e o sonho e entre a consciência e a inconsciência, no entanto, também é possível identificar uma sinestesia “silêncio escuro”, repetição da palavra “sei” e parelismos.