O impacto da volatilidade
AGROPECUÁRIA NACIONAL
No contexto nacional de produção alimentar as actividades cerealífera e pecuária são globalmente muito deficitárias em termos de auto-aprovisionamento e sendo este facto histórico, a situação tem-se agravado nos últimos anos.
Ao nível dos cereais, produzimos menos de 25% da quantidade total consumida e quase não produzirmos proteína vegetal. Assentando a base da nossa produção animal em regimes intensivos
(carne, leite e ovos), consumindo rações que em média contém 70% de cereais e seus derivados e
30% de proteaginosas, facilmente se entende o aumento da fragilidade da fileira pecuária em tempos de elevada volatilidade internacional de preços.
Após quase duas décadas de matérias-primas com preços baixos e estáveis, assistimos ao crescimento galopante dos preços em 2006/2008, seguindo-se uma baixa acentuada em 2009/2010
(crise financeira internacional) e nova alta em 2010/2011.
As causas desta volatilidade são diversas e estão identificadas. No entanto, e apesar das consequências mundiais a que já assistimos (fome nos países subdesenvolvidos, as recentes convulsões sociais no norte de África), e das preocupações das lideranças mundiais (tema actual da agenda do G8, G20, PAC-2013), é de consenso que esta instabilidade vai permanecer.
Dos vários factores de instabilidade referidos, dois têm tido nos últimos anos um enorme peso.
Por um lado a adopção de políticas públicas de apoio à produção de biocombustíveis gerados a partir de matérias-primas alimentares. O facto de aceitarmos que usem os nossos impostos para subsidiar estes combustíveis, que de forma automática aumentaram a indexação do preço de cereais e óleos alimentares ao preço do petróleo, traduz uma falta de lucidez geral. Num contexto de previsível encarecimento do petróleo, dado que se trata de uma energia não renovável, facilmente se advinha o futuro, caso estas políticas persistam.