O hábito de sofrer
:: Bel Cesar ::
Os ensinamentos budistas estão sempre nos alertando para um único ponto: o sofrimento não existe por si mesmo, não está no mundo real ou em nossa própria vida, mas na maneira como a interpretamos. Portanto, eles nos alertam para o fato de que em nosso mundo subjetivo cultivamos constantemente o hábito arraigado de sofrer!
Podemos nos sentir até mesmo idiotas e ridículos quando descobrimos que não precisaríamos sofrer por algo. Mas de nada adianta nos autojulgarmos; aliás, apenas atrasa e dificulta nosso processo de evolução interna. Todos nós já sabemos, por experiência própria, que mudar um padrão de pensamento requer paciência e constante dedicação!
O budismo nos incentiva a romper o hábito de sofrer por meio da consciência da conexão kármica existente entre causas e efeitos. Este é um processo profundo, lento e gradual. Ao ouvir estas três palavras, podemos até mesmo pensar que o processo de evolução interior é sempre denso e pesado. No entanto, nem sempre é assim.
Nos momentos em que temos pequenos estados de iluminação, ganhamos muita energia e bem-estar. Mas, também é verdade que encarar o sofrimento de frente nos leva, pelo menos numa primeira fase, a sentir que passamos a vida evitando sentir, sem saber porque. São dores guardadas em nossa memória como traumas, vivências inacabadas que pedem soluções definitivas.
O processo de autoconhecimento é doloroso e ao mesmo tempo extremamente gratificante. Quanto maior a nossa vontade e determinação em conhecer a natureza daquilo que causa o sofrimento, mais envolvidos nos encontraremos em nosso processo de evolução interna. A esta altura já não medimos mais forças nem sofrimentos. Ao passo que nos envolvemos no processo de autocura, perdemos o medo de sofrer a inevitável dor do hábito de sofrer!
Isto é, não medimos mais a nossa qualidade de vida pela dor, mas sim pelo prazer da consciência: de ver claramente. Assim como relato em meu pequeno livro