O homem na cidade
O homem na cidade
§9. Fica evidente, portanto, que a cidade é uma invenção da natureza, e que o homem,por natureza, é um animal político,[1] que deve viver em sociedade; e que aquele que, por instinto e não por inibição de qualquer circunstância, deixa de participar de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem. Esse indivíduo é merecedor, segundo Homero, da cruel censura de um “sem-família, sem leis, sem lar”. Pois ele tem sede de combates e, como as aves rapinantes, não é capaz de se submeter a nenhuma obediência. §10. De modo muito claro entende-se a razão de ser o homem um animal sociável em grau mais alto do que as abelhas e os outros animais todos que vivem reunidos. A natureza, afirmamos, nenhuma coisa realiza em vão. Somente o homem, entre todos os animais, possui o dom da palavra;[2] a voz indica a dor e o prazer, e por essa razão é que ela foi outorgada aos outros animais. Eles chegam a sentir sensações de dor e de prazer, e fazem-se entender entre si. A palavra, contudo, tem o poder de fazer entender o que é útil ou prejudicial, e, consequentemente, o que é justo e o injusto. O que especificamente, diferencia o homem é que ele sabe distinguir o bem do mal, o justo do que não o é, e assim todos os sentimentos dessa ordem cuja comunicação forma exatamente a família e a cidade. §11. Na ordem natural, a cidade vem antes da família e de cada pessoa individual, visto que o todo deve, obrigatoriamente, ser posto antes da parte. Destruindo-se o todo: dele não restará nem pé nem mão senão no nome, como se poderá afirmar, por exemplo que a mão separada do corpo não será mão senão pelo nome.[3]Todas as coisas são definidas pelas suas funções; e desde que o instante em que elas venham a perder as suas características, não mais se poderá afirmar que são as mesmas; somente ficam entendidas sob a mesma denominação. De maneira evidente, a cidade está na ordem da