O GUARANI
ADAPTAÇAO TEATRAL DE O GUARANI
João Roberto Gomes de Faria
Universidade Federai do Paraná
RESUMO
H á um episódio na vida de José de Alencar que não mereceu a atenção dos seus biógrafos: a polêmica em torno da adaptação do romance O Guarani para o teatro, realizada em 1874 por Visconti Coaraci e Pereira da Silva.
Este trabalho procura preencher tal lacuna, comentando e trazendo à luz, pela primeira vez, textos dispersos de Alencar, Cardoso de Meneses, Jacinto Heller e outros, todos envolvidos nas discussões travadas na imprensa da época.
Todos os biógrafos de Alencar, sem exceção, ou ignoram ou comentam apenas de passagem, com as inevitáveis incorreções, os fatos que envolveram a adaptação do romance
O Guarani para o teatro, no ano de 1874. O objetivo deste trabalho é preencher essa lacuna — e contribuir portanto para um conhecimento maior da vida e das idéias do nosso principal escritor romântico —, trazendo à luz, pela primeira vez, os textos de uma polêmica que agitou o meio intelectual do Rio de Janeiro e que nunca foi devidamente estudada.Comecemos historiando os fatos com um recuo ao ano de 1870, quando, exatamente a 2 de dezembro, estreou no
Teatro Lírico Fluminense a ópera II Guarany, extraída do romance de Alencar por Carlos Gomes. Segundo a descrição feita por Luis Guimarães Jr., folhetinista do Diário do Rio de Janeiro, a noite da estréia foi simplesmente apoteótica. A comoção e o delírio tomaram conta da platéia; o maestro foi chamado à cena oito ou dez vezes; os espectadores invadiram o palco e carregaram-no nos braços; D. Pedro II, coLetras. Curitiba. (31) 59-101 - 19B2
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FARLA. J R.G. José de Alencar: a a d a p t a ç i o teatral de O Guaran,
movido, chamou-o ao seu camarote imperial e louvou-o exuberantemente. As aclamações -populares, em menor escala, estenderam-se ao autor do romance; depois do espetáculo, uma multidão dirigiu-se à casa de Alencar: "Aí ergueram-se
vivas