o filho eterno
O principal fio narrativo da história começa nos anos 80 com um aspirante a escritor, que nunca teve emprego fixo na vida, que é sustentado pela mulher durante o período em que não publica nem vende nada, e que é surpreendido pela notícia do seu primeiro filho ter síndrome de Down. Já no hospital, no dia do nascimento, o pai assume o papel de anti-herói calhorda, hipócrita e insensível (ou simplesmente politicamente incorreto) ao rejeitar e menosprezar aquele filho diferente, o tratando como um estorvo para os seus planos de sucesso, liberdade e sociabilidade. Ele até torce para que o menino morra. E usa o repertório mais inimaginável de palavras para o filho que alguém em sã consciência jamais usaria: algo, a coisa, um ser insignificante, criança horrível, pequeno monstro, pedra inútil, deficiente mental, absolutamente nada, pequeno leproso, problema a ser resolvido, idiota, pequena vergonha, filho-da-puta.O conformismo do pai, que durante a juventude desejava ser um rebelde bem ao estilo Nietzsche de ser, tenta justificar a perda de tempo que a sua vida sempre foi. Ser um marmanjo desempregado sustentado pela mulher é apresentado como não aderir ao sistema e persistir o sonho de tornar-se escritor. Mas cede ao sistema e vai trabalhar como professor público universitário. Não aceitar o filho deficiente, desejando que o menino morra ou abandonar a família