O fascismo
``Repensando a resistência italiana e européia no 50ª aniversário da liberação da Europa" foi o título de um colóquio organizado no último dia 24 de abril pelo departamento de italiano da Columbia University, nos EUA, onde Umberto Eco apresentou uma conferência, da qual a Folha publica a seguir os principais textos, com autorização do autor.
Em 1942, quando tinha dez anos, recebi o Primeiro Prêmio Provincial do Ludi Juveniles
(uma competição voluntário-compulsória para jovens fascistas italianos, isto é, para todos os jovens italianos). Eu discorrera com destreza retórica sobre o tema: "Deveríamos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália? Minha resposta foi afirmativa. Eu era uma criança esperta.
Até que, em 1943, descobri o sentido da palavra Liberdade. Permitam-me contar essa história no final da minha fala. Naquele momento, Liberdade não significava Liberação.
Passei dois anos da minha infância entre soldados da SS, fascistas e comunistas atirando uns nos outros, e aprendi como me esquivar das balas (...).
Em abril de 1945, a Resistência ocupou Milão. Dois dias mais tarde, chegaram ao vilarejo onde eu vivia por então. Foi um momento de alegria. A praça central estava tomada de gente cantando e agitando bandeiras, clamando por Mimo, o líder guerrilheiro da região.
Mimo apareceu no balcão da prefeitura, apoiado em sua bengala, pálido, e com uma das mãos tentava acalmar a multidão.
Eu estava ansioso por ouvir seu discurso, já que toda a minha infância tinha sido marcada pelos discursos históricos de Mussolini _cujas passagens mais memoráveis tínhamos que decorar na escola. Silêncio. Mimo falava numa voz rouca, quase inaudível. Ele disse:
"Cidadãos, amigos. Depois de tantos sacrifícios dolorosos... aqui estamos. Glória aos que tombaram pela liberdade.
E foi só. Ele entrou no edifício. A multidão gritava, os guerrilheiros levantavam suas armas e disparavam rajadas festivas. Nós garotos