O estatuo antropológico da loucura.
O texto de Roger Bastide (1965) aborda a loucura de forma relevante para a etnopsiquiatria. Se o “normal” é estar de acordo com a norma, sendo esse um conceito variante de “bom”, de uma civilização para outra os conceitos de patologia podem variar, já que cada uma tem suas próprias regras.
O autor utiliza para elucidar esse fato um artigo de Ruth Benedict que alarma contra o etnocentrismo dos psiquiatras. No ocidente consideramos uma série de fatos como patológicos, como quando um ser humano tem uma suspeita de perseguição e logo é tratado como um delírio ou uma perturbação de espírito. No ponto de vista Dobu, a suspeita nunca é considerada imaginária e corresponde a uma cultura mágica, onde a todo instante cabe o temor aos ataques imprevisíveis dos feiticeiros. Logo, cada indivíduo obriga-se a adaptar-se aos valores tradicionais do seu sistema, não sendo exatamente aquilo que o é.
Quando certas reações que nos parecem mórbidas são de fato comandadas pelas normas da sociedade , tornam-se mecanismos culturais normais. Mas a adaptação social, não é do ponto de vista psiquiátrico, um sinal de saúde mental; o conformismo pode tomar formas patológicas, em particular sadomasoquistas. A desadaptação é mais uma consequência do que a causa das perturbações mentais. Logo, se existem sociedades doentes, aquele que introjecta as suas normas mórbidas, também se trona doente e o verdadeiro sinal de saúde seria a rebelião, e não a adaptação.
Ruth Benedict ainda afirma que se define o patológico por um defeito de adaptação ao meio físico e social, e como o meio social muda de um povo para outro, a adaptação pode ser forçosamente relativa, mutante com o meio. Sendo assim, o nevrosado pode encontrar um nicho num mundo abrigado e sem problemas, onde pode continuar vivendo “normalmente”, pois o homem só é são na medida em que é normativo relativamente as flutuações do ambiente, onde pode instituir