O espaço romântico de uma história
Alexandre Herculano, como revolucionário que era, tinha a opinião de que era preciso resgatar o passado nacional, a fim de revolucionar o futuro do país. Por isso, passeou de muito bom grado pelas funções de historiador, escritor e acadêmico. Disso surgem, além dos quatro tomos de História de Portugal (1846-53) e dos três volumes de Da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-59), livros ficcionais, como O Bobo (1838) e Euríco, o Presbítero (1844) de que trata esta resenha.
O romance do primeiro romantismo de Portugal tem, além do enfoque histórico já citado, os conhecidos amor impossível e o conflito entre o humano e o social – aqui retratados nos personagens principais, Euríco e Hermengarda, que tem seu amor primeiramente impossibilitado pela falta de posses de Euríco e, posteriormente, pela condição de presbítero da personagem masculina. Cabe aqui uma pequena comparação com os romances do primeiro romantismo brasileiro, tão bem representado pela figura de José de Alencar, cuja característica era também buscar a elevação da condição de país, retomando as raízes socioculturais e étnicas próprias da região esquecidas pelo povo. Diria Jesus Antônio Durigan (1982), retomado por Demétrio Alves Paz em seu artigo intitulado “Eurico, um romântico idealista”: “[na obra de Herculano há uma] busca e recuperação, no passado histórico português, das características fundadoras da nacionalidade” (p. 108).
Poema épico ou crônica-poema – o autor, muito propriamente, deixa essa questão em aberto: “(...) dei cabida à crônica-poema, lenda ou o que quer que seja do presbítero godo (...) (1997, p.13).”- a obra revela-se bem condizente com a proposta iniciada no romantismo português encabeçado por Almeida Garret, de quem Herculano era contemporâneo, e seu Camões (1825): a mistura de gêneros, face às normas e aos modelos classicistas propostos pelos neoclássicos.
O livro retrata o início do século VIII ou o momento da invasão da Península