O escritor sai da sombra antonio gonçalves filho
O ESCRITOR SAI DA SOMBRA - Antonio Gonçalves Filho
Nova edição de Crônica da Casa Assassinada marca 50 anos do lançamento do romance de Lúcio Cardoso, autor redescoberto em teses e adaptações teatrais Meio século após a publicação desse que é um dos monumentos literários do País, o romance Crônica da Casa Assassinada, do mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968), vai ganhar não uma, mas duas adaptações teatrais, e ainda uma nova edição da editora Civilização Brasileira, que relança toda a obra do autor, mais estudado na Academia que lido fora dela. Lástima. Em 1959, Crônica da Casa Assassinada foi saudado como obra-prima, o que não impediu que outros livros seus ficassem fora de catálogo pelas quatro décadas seguintes. Melhor destino não teve a poesia desse que é considerado o Dostoievski brasileiro, quase tão ignorada nas escolas como seus contos e peças, para não falar do único filme dirigido pelo escritor, aos 37 anos, A Mulher de Longe (1949), ainda menos conhecido que o restante de sua obra. Filho de uma tradicional família mineira, Cardoso buscou nela seu ?rosebud? wellesiano, trocando as cores do romance regionalista, em voga na época de suas primeiras publicações (anos 1930), pelo preto-e-branco de sua literatura feita de sombras e passado, embora conduzida pela luz da modernidade. Seus personagens, torturados pela culpa de amores incestuosos ou interditos por outras razões, são tão desconcertantes que até Mário de Andrade, numa carta dirigida ao autor a respeito de A Luz no Subsolo, reconheceu sua singularidade, revelando que esse "romance estranho e assombrado", embora lhe parecesse um tanto absurdo, tinha criaturas loucas o bastante para o deixar com a sensação de que recebera "um bruto soco no estômago". A Luz no Subsolo é de 1936. Naturalmente, ainda não tem a dimensão monumental de Crônica da Casa Assassinada, seu romance