O discurso como prática social: a análise de um panfleto
Maria Raquel A. C. Galan
1 Introdução
Há algum tempo, analisei o discurso de uma propaganda televisiva, o qual claramente buscava persuadir os interlocutores das vantagens ambientais e econômicas que a construção da Usina Hidroelétrica Luís Eduardo Magalhães traria para todo o estado do Tocantins. Como dizia a propaganda, a usina beneficiaria todo mundo: “bicho, gente e até planta”.
Como se tratava de um assunto polêmico, havia posições contrárias e a favor da construção. Jornal, rádio, televisão eram os veículos da mídia utilizados pelos que apresentavam as vantagens de se ter uma hidroelétrica no Estado: o governo e a empresa construtora. A fala, a posição daqueles que, diretamente, seriam “atingidos” pela construção da usina não chegava ao público.
Mas, um dia, recebi de uma aluna um panfleto com um discurso radicalmente contra a construção da hidroelétrica. E é esse discurso que vou procurar descrever e interpretar, à luz da Análise do Discurso Crítica (ADC), orientando-me, principalmente, pelo que diz Fairclough (1992, trad. 2001) quanto à “concepção tridimensional do discurso” e pelo que tratam Giddens (2002) e Bauman (2001) quando se posicionam em relação à separação de tempo e espaço na “modernidade leve”.
Primeiramente, tratarei das mudanças propostas por Chourialaki e Fairclough (1999) às três dimensões do discurso e das alterações feitas às macrofunções da linguagem de Halliday, apresentadas por Fairclough (2003), para atender às suas perspectivas de análise. Em seguida, farei uma abordagem sucinta da concepção tridimensional do discurso. Depois, apresentarei algumas informações sobre a modernidade ‘leve’, ‘líquida’ ou ‘tardia’, sem pretensão de aprofundamento, a fim de poder tratar da separação tempo/espaço, característica da época contemporânea e conseqüência do desenvolvimento tecnológico e da política neoliberal. Farei, então, a análise do panfleto citado e, finalmente, exporei as