O desejo da grecia helenistica
LATINOAMERICANA F U N D A M E N T A L DE PSICOPATOLOGIA
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Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 2, 98-128
O desejo na Grécia Helenística
Zeferino Rocha
98
O presente trabalho é a terceira e última parte de uma pesquisa sobre “O desejo na Grécia Antiga”. Na primeira parte, reunimos as manifestações do desejo nos poemas épicos, líricos e trágicos, bem como nas máximas dos sete sábios e na doutrina dos filósofos pré-socráticos da Grécia Arcaica. Na segunda, apresentamos o essencial da sistematização teórica que, na Grécia Clássica, Sócrates, Platão e Aristóteles deram a essas primeiras manifestações do desejo. Nesta última parte, depois de lembrar a origem e as características da cultura helenística, vamos ver o que os epicuristas e os estóicos, no contexto de suas respectivas filosofias, disseram sobre o desejo no Jardim de Epicuro e no Pórtico Antigo de Zenão e Crísipo. Palavras-chave: Cultura helenística, arte de viver, prazer, virtude, felicidade
ARTIGOS
Introdução
A cultura helenística A conquista do Oriente feita por Alexandre Magno e a expansão da cultura helênica, através de quase todo o mundo até então habitado, produziram um fenômeno cultural novo de proporções gigantescas, que se costuma designar com o nome de Helenismo. Este fenômeno deu início a uma nova época na história da Grécia Antiga, marcada por um novo “espírito do tempo” (um novo Zeitgeist, diriam os alemães) inteiramente diferente daquele que dominou a Grécia Clássica. Na civilização helenística, o que mais traumatizou a mentalidade da Hélade foi certamente o progressivo desaparecimento do papel e da importante função que tinha a Πολις no cenário político do mundo helênico. As cidades-estados independentes – que, desde o século de Péricles, proporcionaram, pela primeira vez, na história da Humanidade, a experiência ímpar da democracia – foram submetidas ao ambicioso projeto de uma monarquia universal, que começou a ser realizado por Felipe, rei