O conceito antigo de imitação
Em Platão, a poiesis mimética é lida como o desfiguramento da verdade e dos valores morais. A descrição de Platão da mimesis como apresentação na qual o Ser não se apresenta em si mesmo, estabiliza-se na unidade da Forma transcendente, fornece, na república, uma razão suficiente para a rejeição dos miméticos. Nesse sentido, toda a análise platônica visa reduzir a poesia à verdade e à univocidade dos juízos morais.
A divergência entre Platão e Aristóteles com relação à compreensão da tragédia está fora de dúvida. Existe esse divergência fundamental que afasta Aristóteles das considerações platônicas pejorativas atribuídas à atividade dos poetas e, principalmente, à tragédia.
Essa divergência traça uma linha divisória que separa radicalmente a compreensão aristotélica da tragédia daquela explicada por Platão. Ela diz respeito principalmente, por um lado, à redução da estrutura da ação poética à estrutura da ação na vida, no mundo ético e prático, inscrito no conceito platônico de mimesis enquanto reprodução ou imitação fiel e apurada da realidade material e por outro, da confusão implicada na determinação da poesia como pura imitação.
2º) O conceito antigo de imitação: Platão, Aristóteles e Horácio.
O poeta, sendo imitador, é o mais afastado da verdade, próximo aos ilusionistas, porque não produz mais do que sombra das coisas. Isto é quase uma afronta ao senso comum dos gregos, que cultuavam seus poetas como os mais sábios dentre os homens, porta-vozes do conhecimento das virtudes.
Aristóteles herda de Platão a categoria de “arte mimética”, mas, ao menos no tocante ao que nós chamamos de artes literárias, ele está disposto a resgatar-lhes aquele valor arcaico tradicional de sabedoria e verdade. Já no que diz respeito às outras artes miméticas, as não literárias, Aristóteles, por omissão, as deixa no mesmo patamar em que sempre estiveram: ofício de artesão, atividade socialmente