O Complexo de Midas e o Natal

O Complexo de Midas e o Natal
Na rua do bairro onde moro o paganismo liberou geral (sic); desde as primeiras horas da noite de ontem, 24, véspera do Natal; comandado pelos donos de bares e casas de festas, e pelos próprios moradores em suas casas, com o apoio da tecnologia de som e de mídia; muita onda, muito prazer, muita dissolução; são sete da manhã de 25, e ainda se ouve no ar o som do brega paraense, de hits internacionais, merengues das Guiana Francesa, reggae songs etc.
Quem surfa nessa onda de diversão e sensualismo ignora quem foi Jesus, sua mensagem moral, razão da festividade; ou então simplesmente, desocupado, aproveita a interrupção do fluxo semanal reservado ao trabalho; lucram os comerciantes, quem tem alguma mercadoria para vender; o momento é favorável para vender; há quem queira comprar; o tempo é de negócios, de lucrar e de ter prazer, gozar.
Dessa forma o mundo se fecha em si mesmo; exceto o momento presente, não temos outra razão para viver; vale o dia a dia, o hora a hora, o minuto a minuto, o imediato; como os animais, cuja consciência se limita ao imediato também; alimento, repouso, reprodução; alimento, repouso, reprodução; alimento, repouso, reprodução...
A reprodução de prole garante a repetição do ciclo; estático; numa regressão, transformamo-nos, reduzindo-nos a vegetal; não há mais evolução dinâmica horizontal, apenas vertical; estamos paralisados, fixos, os pés plantados no chão. Os conservadores, donos do poder que cria esse caos, em minoria, gostam disso, apraz-lhes a subserviência vegetal de todos nós, a maioria; cultivam-nos em seus jardins e quintais; frutos, sem esforço, colhem-nos quando querem. Somos adoradores dos ídolos da hora, do paganismo renascido, em pleno século vinte um.
O capitalismo, crença que sustenta a alma dos conservadores de plantão, tem o poder mágico de Midas, personagem da mitologia grega; rei de Frígia, cidade helênica, Midas transformava tudo que tocava em ouro; ganancioso, ganhou esse poder do deus