O Caso da Var
No conto “O jardim selvagem” há a estranheza da doença repentina da personagem Ed, logo seguida de um suicídio. O casamento dele com Daniela surpreende a toda a família, que só é comunicada da união depois de efetivada. Além disso, a mulher apresenta traços inquietantes como o fato de usar permanentemente uma luva na mão direita e de transformar a fisionomia quando fica com raiva:
_ Quando fica brava... A gente tem vontade até de entrar num buraco. O olho dela, o azul, muda de cor.
Trata-se, na verdade, de uma figura feminina envolvida por uma aura de mistério: somam-se a essas incongruências comportamentais o uso constante da luva na mão direita, bem como a falta de informações sobre seu passado. Buscando razões lógicas, presume que a moça esconde com a luva algum tipo de deformidade física,mas, luvas podem simbolizar máscaras, aquilo que se coloca para disfarçar, dissimular, encobrir algo que não deve ser revelado.
O enigma que resguarda essa mulher, comparada pelo marido a um jardim selvagem, torna-a suspeita de um assassinato ou, pelo menos, de indução ao suicídio do marido. A atitude e a justificativa para o que fizera com o cachorro é uma pista incontestável: se Ed estava doente, sem cura, era comparado a um desafino e ela foi clara ao dizer que era melhor acabar com o instrumento a ouvir o som desafinado; ou seja, para ela, o fato de não querer conviver com a doença justificava a decisão pela morte
A forma como a cozinheira descreve a morte do cachorro,a indignação diante do motivo que Daniela apresentou para tal ação, demonstram que há um olhar de desaprovação da empregada pela atitude a que assistiu; ela reprova o ato da patroa, apesar de considerá-la tão fina, tão boa, e chama a atenção para a falta de enquadramento de Daniela às normas sociais de conduta esperadas, tidas como “naturais” para uma mulher naquele contexto.
A Possibilidade de Daniela ser uma assassina fria e calculista é a mesma de se tratar