O capote
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O CAPOTE
Na Repartição de... Mas será melhor não a nomearmos, porque nada há mais susceptível do que os nossos empregados públicos, desde os amanuenses aos chefes de repartição. Actualmente, cada um sente-se em particular como se na sua pessoa toda a sociedade tivesse sido ofendida. Diz-se que um capitão da polícia apresentou, ainda não há muito tempo, uma queixa - não me recordo em que cidade isto se passou - revelando claramente que os decretos imperiais eram desdenhados por toda a gente e que o santo nome de um oficial era proferido com desprezo. E juntava, como prova, o volumoso tomo de certa novela em que, de dez em dez páginas, aparecia um capitão da polícia, e, o que é demais, em completo estado de embriaguez. Deste modo, para evitar desgostos, em vez de indicar a repartição onde ocorreu o facto, é preferível dizer apenas: "Numa repartição..." Por conseguinte, "numa repartição" servia "um funcionário". Esse funcionário, é justo dizê-lo, era muito distinto: de estatura baixa, um pouco picado das bexigas e igualmente um pouco curto de vista, com uma pequena calva a principiar na testa, rugas nas duas faces e, no rosto, essa cor característica do hemorroidal ... Que se lhe há-de fazer: A culpa era do clima de Sampetersburgo. Pelo que se refere à sua categoria (pois é entre nós a primeira coisa que se menciona), era o que se designa por "conselheiro titular perpétuo", um daqueles com que satirizam certos escritores que têm o benemérito hábito de cair a fundo sobre os inofensivos. O nosso funcionário tinha o apelido de Blaquemaquine (sapateiro), e já por esse apelido se vê qual tinha sido a sua ascendência; mas quando, onde e de que