O BRASILEIRO
“Não caçamos pretos, no meio da rua, a pauladas, como nos Estados Unidos. Mas fazemos o que talvez seja pior. A vida do preto brasileiro é toda tecida de humilhações. Nós tratamos com uma cordialidade que é o disfarce pusilânime de um desprezo que fermenta em nós, dia e noite”
Nelson Rodrigues
PRECONCEITO: ATRIBUTO DO ‘OUTRO’?
Nelson Rodrigues, ‘especialista’ em denunciar aquilo que geralmente se esconde por detrás das aparências, aponta uma farsa da qual, muitas vezes, o brasileiro se orgulha - a crença de que, no Brasil, vive-se uma ‘democracia racial’, desenvolvendo a crença de que a discriminação etnoracial não existe.
Diversas pesquisas, como as apontadas pela Revista Veja (10.01.1996) e pela Datafolha (Rodrigues, 1995), foram unânimes em ressaltar que o preconceito é sistematicamente considerado como atributo do “outro”. Os resultados da pesquisa Datafolha apontam que 89% dos brasileiros afirmam saber existir preconceito contra os brasileiros negros, mas somente 10% o admitem como seu. Pag 70.
Em função disso, a população negra encontra-se submetida a um processo em que as condições de existência e o exercício de cidadania tornam-se muito mais precários com relação à população considerada branca. Pag 71.
Assim, no Brasil, o preconceito não é abertamente afirmado, dificultando a elaboração de leis que favoreçam sua reversão. Pag 71
O PRECONCEITO SILENCIADO
A família composta pelo casal Neusa e João, as filhas Sandra, 21 anos, Rosa, 19 anos, e José, o filho de 16 anos, apresenta uma configuração muito comum. Conforme as percepções dessas pessoas, o pai e o irmão sempre foram considerados negros; Neusa, era considerada branca e hoje, negra; Rosa, via-se como morena e a irmã Sandra, como mulata, e hoje ambas definem-se como negras.
A partir de episódios de discriminação racial sofridos, de participações em grupos de militância e movimentos culturais, como o rap, por exemplo, todos