o ano em que meus pais saíram de férias
Com doze anos de idade, Mauro (Michel Joelsas) já sabe que a profissão de arqueiro é a mais solitária dentro de campo. A responsabilidade é tremenda. Transcorre 1970, ano de Copa, e os pais de Mauro saem de férias. Esse é o eufemismo para dizer que a ditadura forçou o casal a se esconder. O garoto é deixado em São Paulo com o avô. O que os pais não esperavam é que o velho falecesse de repente. Mauro está prestes a experimentar um pouco da responsabilidade - e da solidão - de ser um goleiro nesse jogo da tenebrosa e incerta época da repressão.
O bairro é o Bom Retiro, centro de comércio têxtil paulistano de grande concentração judaica. Mauro acaba no apartamento de Shlomo (Germano Haiut) e o primeiro contato dos dois não é dos melhores - mesmo porque o garoto é um gói, um não-judeu. Ao choque cultural se soma o de gerações. E Mauro não está interessado em interagir. Passa os dias ao lado do telefone, aguardando um telefonema. Seu pai prometeu voltar a tempo do começo da Copa, e Mauro guarda aí a sua esperança.
A melancolia que se segue é comum aos filmes nacionais que tratam do período do regime, mas nenhum adere, como Hamburger, ao ponto-de-vista de uma criança. A referência mais evidente é o cinema argentino: Kamchatka (2002), em particular, também enxerga dilemas de adulto por olhos inocentes. Justiça seja feita, no material de imprensa do filme a inspiração portenha é admitida. Spielberg e Leone também são citados no release. Do primeiro Hamburger herda o bom trato com elenco-mirim, contato esse depurado pelos anos de direção do seriado Rá-Tim-Bum. Do segundo, tira menção a Era uma vez na América, as ótimas