o alienista
Adriane Camara de Oliveira
(...) Poderia convidar alguns de vós, em comissão dos outros, a vir ver comigo os loucos reclusos; mas não o faço, porque seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos, nem a rebeldes.1 (ASSIS, 2004, 302)
Loucura e lucidez: duas faces da mesma moeda?
Quando “O Alienista” foi publicado em Papéis Avulsos (1882), Machado de Assis já tinha inaugurado sua fase considerada de maturidade com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Neste romance, somos confrontados com um “defunto autor”, cujo célebre “delírio” parece anunciar a temática principal da novela, só que sua abordagem ainda não seria tão específica quanto na saga de Simão Bacamarte. Portanto, neste ensaio gostaria de levantar algumas hipóteses de leitura, surgidas após a verificação de alguns dos mais importantes textos machadianos.
Consideremos a seguinte premissa: a obra machadiana deve ser vista como um todo coerente. Portanto, sugiro um novo enquadramento para nossa observação: a divisão da obra por temas, quase sempre recorrentes. Para melhor esclarecimento, ressaltamos que se trata de um complexo processo, ou seja, o tema que surgisse como uma hipótese, em uma outra obra se tornaria um capítulo, para em seguida tornar-se uma personagem e, finalmente, a própria obra.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas alguns capítulos foram dedicados à loucura e sua possível cura. No capítulo CLIII, “O Alienista”, observa-se uma disputa mais direta entre a “sanidade” e a “loucura”. A aproximação com a novela “O Alienista” também ocorrerá nos conceitos com os quais o narrador definiria uma e outra. Por exemplo, as atribuições dadas à causa da loucura fariam parte de questões triviais, comportamentos facilmente percebidos em nosso cotidiano. Mas o alienista insistiria em buscar meios para separá-las. Portanto, Machado de Assis inauguraria ali uma nova ordem, que pretendemos aqui analisar:
No dia seguinte, mandou-me o