O abusado
Um livro cheio de implicações éticas, morais, legais.
Para se entender toda a violência urbana instalada no Rio de Janeiro, é necessária compreender como pensam e como agem os criminosos que impõem o terror na cidade. ABUSADO, livro-reportagem de Caco Barcellos, é uma verdadeira lição sobre a lógica, os meandros e os modos de operação das grandes corporações criminosas que comandam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas no Estado. Através da história de Juliano VP (codinome de um conhecido traficante carioca) - sua infância, adolescência, entrada e ascensão no tráfico de drogas na favela Santa Marta (em Botafogo, bairro de classe média) -, temos um retrato histórico da ocupação do morro pelo Comando Vermelho, principal facção criminosa no Estado, e da implantação de sua cruel disciplina.
Mas não é apenas um livro sobre a história do tráfico. Juliano é um personagem extremamente fascinante, um criminoso com refinado gosto literário, preocupado com o destino da comunidade favelada do Rio de Janeiro. Em que os contatos iam dos violentos chefes do CV até importantes intelectuais cariocas. Os contatos com os intelectuais repercutiram entre os comandantes de outros morros ligados ao Comando Vermelho. Não chegaram a condená-lo, mas ajudavam a difundir o seu apelido de Poeta e a crença de que o chefe da Santa Marta era um doidão que matava pouco, desprezava dinheiro, defendia idéias que consideravam esquisitas e tinha a pretensão utópica de se tornar uma espécie de embaixador do tráfico no Rio de Janeiro.
O livro esclarece, ainda, o polêmico envolvimento do cineasta filho dos donos de um dos maiores bancos brasileiro com Juliano, na forma de uma mesada de mil dólares/mês para que o traficante largasse o crime.
Caco reporta também o desenvolvimento da cidadania dos moradores da Santa Marta, seus esforços e conquistas em um morro cravado na Zona Sul carioca, mas com tudo o que uma favela pode ter de