F bula das tr s ra as
"Nessa digressão (...) apresento o caso do ‘racismo a brasileira’ como prova desta dificuldade de pensar socialmente o Brasil e ainda como uma tentativa de especular sobre as razões que motivam as relações profundas entre credos científicos supostamente eruditos e divorciados da realidade social e as ideologias vasadas na experiência concreta do dia-a-dia". (59) "Vale destacar o nosso racismo contido na ‘fábula das três raças’ que, do final do século passado ate os nossos dias, floresceu tanto no campo erudito (das chamadas teorias cientificas), quanto no campo popular". (58)
***
Ao se descobrir que alguém e antropólogo, logo se pergunta se ele trabalha com ossos, crânios, túmulos e esqueletos fósseis. "Outra indagação frequente pode igualmente surgir no conjunto de perguntas sobre as ‘raças formadoras do Brasil’, (...) perguntas que dizem respeito a uma confirmação científica da ‘preguiça do índio’, ‘melancolia do negro’ e a ‘cupidez’1 e estupidez do branco lusitano, degredado e degradado. Tais seriam hoje os fatores responsáveis, nesta visão tão errônea quanto popular, pelo nosso atraso econômico-social, por nossa indigência cultural e da nossa necessidade de autoritarismo político, fato corretivo básico neste universo social que, entregue a si mesmo, só poderia degenerar-se". (59) "Ouvindo tais opiniões tantas vezes, eu sempre me pergunto se o racismo do famoso Conde de Gobineau2 está realmente morto!". (59)
"Ou seja, nos nossos valores, o lugar do antropólogo é sempre junto à Biologia (medindo caveiras ou discutindo raças) ou com a Arqueologia Pré-Histórica, perdido na madrugada dos tempos. Ora estamos na Historia do Brasil vista, a meu ver, pelo seu prisma mais reacionário: como uma ‘historia de raças’ e não de homens; ora estamos fora do mundo conhecido (...). Em todo caso, observo novamente, sempre com o conhecimento social sendo reduzido a algo natural como ‘raças’, ‘miscigenação’ e traços